Transição para net zero pode gerar aumento de U$34 bi no PIB e criar 3,8 milhões de empregos no Brasil | Finanças sustentáveis

por Redação 8 Leitura mínima

Ao contrário da maioria dos países com altas emissões de carbono provenientes de setores de energia, transporte e indústria, no Brasil o foco do problema está no desmatamento. Por aqui, 75% das emissões vêm do uso da terra, de mudanças nas florestas e da agricultura.

Nesse cenário, a transição poderia gerar um aumento de US$ 34 bilhões no PIB, a criação de até 3,8 milhões de empregos e provar o potencial brasileiro como protagonista global.

“O Brasil tem o maior potencial de sequestro de carbono do planeta, de aproximadamente duas gigatoneladas/ano, sendo que o mundo vai precisar de entre oito e 13 gigatoneladas de sequestro em 2050 para chegar ao net zero, segundo o IPCC”, diz Henrique Ceotto, sócio da McKinsey & Company no Brasil.

Segundo o executivo, o potencial é gigantesco para exportação no curto prazo, já que o país vai muito além do volume de sequestro para cumprir suas metas de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês). “Se o Brasil evitar o desmatamento, limitar as emissões de indústrias, de geração de energia e transporte, e focar em descarbonizar a agricultura, só vai precisar de créditos de sequestro depois de 2040”, calcula Ceotto.

Um potencial que está subaproveitado: “No ano passado inteiro, o país emitiu menos de um milhão de créditos de sequestro. Isso significa que temos oportunidade de crescimento de mais de duas mil vezes”, afirma.

Para ajudar a desbloquear toda essa capacidade, estruturar ações-chave para o desenvolvimento do mercado voluntário de carbono no Brasil e posicionar o país na liderança do mercado global de carbono de alta integridade, em 2022 foi criada a Iniciativa Brasileira para o Mercado Voluntário de Carbono.

Coordenada pela McKinsey & Company, trata-se de uma coalizão de dez empresas e instituições de diversos setores – Amaggi, B3, Bayer, Dow, Equinor, Itaú, Natura, Rabobank, Systemica e Vale – atuando pelos mesmos objetivos.

O mercado de capitais entra nessa iniciativa com um peso muito relevante. A B3 atua como um dos pilares da economia brasileira e tem um papel fundamental em facilitar o fluxo de capital sustentável em escala para os mercados de carbono com transparência, segurança e solidez operacional. Atraindo investidores que buscam transparência, acesso a informação, diversificação e segurança, a Bolsa tem os predicados que proporcionam essas garantias. “Nós somos a organização, a infraestrutura que vai permitir esse volume maior de capital com segurança para projetos tão importantes. Temos a função de facilitar o fluxo de capital em escala para soluções em linha com os objetivos de desenvolvimento sustentável”, afirma Cesar Sanches, superintendente de Sustentabilidade da B3.

Entre as participantes, a Natura enxerga a iniciativa como uma estratégia de impulsionamento. “Ela traz um espaço que integra diferentes vozes, garantindo um bom diálogo entre as diversas partes da grande rede formada por desenvolvedores de projetos, instituições financeiras, mercado internacional e outros compradores, trazendo mais robustez e integridade para o mercado. E, especialmente para a Natura, é mais uma oportunidade de manter projetos florestais, sustentando um caminho de manutenção de floresta em pé”, destaca Fernanda Facchini, gerente de Sustentabilidade para América Latina da marca.

A iniciativa teve seu “start” com uma análise profunda para entender os desafios e escaladas desse mercado, olhando, especialmente, para as dificuldades de interface entre as cadeias dos créditos de carbono, mapeando os principais pontos de dor de cada jornada.

Agora, está em fase de implementação de mecanismos acionáveis e táticos focados na escalada do mercado e na desintermediação. São seis grandes mecanismos, sendo que dois já estão caminhando: o desenho de um conselho brasileiro do mercado de carbono voluntário, cujo papel é garantir a integridade e agregar dados para comunicar a realidade do mercado para públicos internos e externos; e um repositório de projetos para resolver o problema de risco de fraude associado a questões da geografia.

Repositório operado pela B3

A plataforma contribui para a transparência do mercado, já que um dos grandes pontos de dor dos compradores é o desconhecimento da origem dos créditos. “Quando a gente olhou para os créditos brasileiros, a maior parte dos de baixa qualidade estava ligada a temas de problemas legais, como a propriedade da terra, evasão fiscal, relação com a comunidade, trabalho infantil etc.”, lista Ceotto.

Focada em sanar esses pontos a plataforma é sinônimo de transparência. “Todo e qualquer projeto brasileiro que está registrado na Verra ou GoldStandard aparece ali. E qualquer um pode solicitar uma diligência”, explica Ceotto. Para tanto, foi criado um protocolo comum de auditoria em parceria com escritórios de advocacia que operam nesse mercado que tem um processo de governança associado que assegura a integridade.

Sobre a operação do repositório ser tocada por uma entidade brasileira, a executiva da Natura vê um grande valor. “Fomos felizes em escolher a B3 para a gestão da plataforma, uma instituição financeira nacional que traz credibilidade e congrega a reputação do país”, diz Fernanda.

Em relação aos benefícios da plataforma, Ceotto lista a redução no custo geral para o comprador, o aumento na confiança de compras diretas e a diminuição da necessidade de intermediação. “Queremos acelerar a desintermediação para garantir que o mercado tenha mais confiança, mais liquidez e que o dinheiro esteja indo de fato para o projeto que está sendo desenvolvido, o que é especialmente relevante para os projetos de restauração, que são de capital intensivo, que precisam ser remunerados”, diz.

Vale reforçar que a agricultura regenerativa tem um papel estratégico na descarbonização do uso da terra. Segundo estudos da Embrapa, a cada US$ 1 investido para descarbonizar a agricultura, é possível obter o retorno de até US$ 1,69 em receitas de ganho de produtividade. “É um excelente negócio, mas também não é fácil, porque os ciclos de investimento mudam, e a forma como é feito o financiamento tem que mudar para modelos mais produtivos. O fato é que o Brasil é uma grande potência verde, nós só precisamos destravá-la”, resume Ceotto.

Fonte: Externa

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