A Polícia Federal (PF) defendeu, em seu relatório, que não pairavam “dúvidas” sobre a necessidade da prisão preventiva dos três suspeitos de mandarem matar a vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e o motorista Anderson Gomes. O documento cita, inclusive, que havia risco de fuga caso a medida não fosse colocada em prática.
“Em relação à garantia de aplicação da lei penal, um cenário de fuga dos agentes é absolutamente verossímil, sobretudo em razão das suas respectivas situações financeiras abastadas, suas redes de contatos e interações nefastas, além da informação de que membros do grupo possuem imóvel no exterior”, escreveu a PF.
O documento apontou, por exemplo, que a mulher de Domingos tem, em seu nome, um apartamento em Miami.
Para a PF, a prisão do trio era necessária para prevenir crimes futuros, permitir que testemunhas possam restar suas declarações livres de qualquer ameaça e evitar que eles se furtem da aplicação da lei penal.
Também afirmou que, até os dias atuais, era possível “aferir a movimentação de Domingos, Chiquinho e Rivaldo no sentido de criar obstáculos à regular tramitação da elucidação dos fatos que circundam o homicídio”.
Segundo a PF, a investigação reuniu “fartos elementos de convicção” sobre a autoria do crime, que foram “demonstrados à exaustão” ao longo do relatório, de 479 páginas, sobre a investigação.
“A materialidade dos crimes e os robustos indícios de sua autoria estão inequivocamente comprovados pelas informações obtidas por meio das declarações prestadas por Ronnie Lessa no bojo da sua colaboração premiada, devidamente corroboradas pelos dados oriundos de diversas fontes, como procedimentos legislativos, inquirição de testemunhas, compartilhamento de provas de uma profusão de investigações satélites etc.”, escreveu.
Para a PF, “inexistem maiores digressões acerca da relevância das condutas perpetradas” pelos investigados. “A tríade foi a responsável pela idealização do delito, de modo que os executores foram um mero instrumento para a perpetração do intento inicialmente concebido pelos dois primeiros e planejado pelo terceiro.”
No relatório, a Polícia Federal afirmou ainda que todos esses elementos colhidos na investigação vão além do caso de Marielle, e “descortinam a existência de um verdadeiro estado paralelo, capitaneado pelos ‘capos’ da política fluminense e detentores da palavra final de quem deve morrer ou viver na Guanabara”.
Segundo os investigadores, inicialmente, a prática de crimes contra a vida “era restrita aos efeitos colaterais dos diversos conflitos paralelos que ocorrem no Rio de Janeiro, tais como guerras de facções do tráfico de entorpecentes, confrontos entre milícias paramilitares, disputas de territórios do famigerado jogo do bicho e máquinas caça-níquel”, mas que o assassinato de uma vereadora revelava que “as desavenças regulares do jogo político transbordaram o tabuleiro da democracia e descambaram para essa mesma vala de sangue e corrupção”.
“A atuação séria, coordenada e combativa de Marielle Franco e seu partido em face do estado de coisas que permeava o Rio de Janeiro nos meses que antecederam sua morte foi determinante para que os investigados concebessem seu homicídio. Marielle tinha uma vida privada e pública talhadas pela honestidade e bravura, sem que houvesse qualquer fato apto a desabonar sua trajetória. Sua morte foi fruto da absoluta indiferença dos autores intelectuais e do detentor do domínio das minúcias da marcha criminosa ao Estado Democrático de Direito, o que, salvo melhor juízo, é o mais alto patamar de vulneração à ordem pública nesse país”, escreveu a PF.