A frequência cada vez maior dos eventos climáticos extremos e seus impactos à estabilidade financeira e aos níveis de preço na economia deixam claro que a mudança climática é algo que deve ser incorporado aos mandatos dos bancos centrais, defendeu o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, durante painel em evento do Banco de Compensações Internacionais (BIS) realizado nesta manhã.
Para ele, o mundo ainda está subestimando o custo físico dos eventos climáticos, ao mesmo tempo em que os custos da transição verde têm se provado maiores do que o antecipado.
Ainda assim, o presidente do BC considera que a transição climática é necessária e deve ser coordenada por autoridades diversas.
Para Campos Neto, bancos centrais ao redor do mundo precisam pensar em formas de incentivar a transição verde, e uma forma possível de fazer isso é usar políticas macroprudenciais, que costumam estar limitadas a questões ligadas à estabilidade do sistema financeiro.
“Costumamos trabalhar em bancos centrais com o princípio da separação. Para a política monetária, usamos a taxa de juros e, para a estabilidade financeira, usamos a política macroprudencial. Em crises, essas coisas tendem a se cruzar em algum momento. Se você acredita que o clima é um desafio tão grande, é quase como se você olhasse para o mesmo problema, pensando que, eventualmente, elas vão se cruzar. E isso já está acontecendo, tivemos que lidar com três eventos em um ano”, reforçou Campos Neto.
Neste sentido, o presidente do BC questionou se os bancos centrais não deveriam, por exemplo, cobrar um custo de capital maior a bancos que têm investimentos não-verdes. “Quanto mais olhamos para isso e vemos que essas coisas estão interligadas, mais essas perguntas vêm à minha mente”, concluiu Campos Neto.