O resultado de fevereiro do Monitor do PIB, calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), mostra que a economia do país cresce de forma “mais estruturada” que no ano passado. A opinião é de Juliana Trece, economista e coordenadora da pesquisa.
“O crescimento está mais estruturado, principalmente se compararmos com o ano passado, que foi muito puxado pelo agro”, diz Trece.
“O investimento está voltando, ainda em nível baixo, mas recuperando. E há uma perspectiva boa com a queda de juros. Embora a expectativa seja de crescer menos este ano, esse crescimento está bem melhor do que foi [em 2023], pois está mais estruturado.”
Trece destaca que, do lado da oferta, os serviços crescem acima das projeções, enquanto a indústria teve um leve recuo de 0,1% em fevereiro frente a janeiro — quando havia caído 2,6% ante o mês anterior —, mas permanece em patamar superior ao ano passado. Assim como a exportação.
“A indústria e a exportação podem mostrar dificuldade de crescer na ponta, mas avançam na comparação com 2023”, diz a economista, que destaca que a queda de 0,1% da indústria em fevereiro está muito próxima da estabilidade.
Ela lembra que o setor de serviços mostra avanço em praticamente todas as atividades, o que ainda não acontece na indústria, que é um setor muito atrelado aos juros. “Mas a tendência é que isso melhore ao longo do ano”, afirma.
Em termos de perspectiva, a economista acredita em um 2024 com o consumo em alta, uma vez que a expectativa é de juros menores e do efeito de programas de equacionamento de dívidas — como o Desenrola — já com impactos positivos não apenas para a queda do endividamento, mas também da inadimplência.
Ano eleitoral e tensões no Oriente Médio
Além disso, lembra ela, o ano eleitoral, com pleitos municipais em outubro, contribuiu para segmentos como a construção civil, o que também pode beneficiar diversos setores da economia, inclusive os investimentos.
Em termos de riscos ao cenário atual, Trece cita os possíveis desdobramentos do ataque do Irã a Israel, mas podera que, por enquanto, esse efeito “não parece claro”.
Em caso de escalada das tensões a ponto de um conflito real, as consequências mais imediatas para a economia brasileira podem ser nas exportações e no câmbio.
Trece argumenta que uma alta do dólar poderia influenciar negativamente a importação de bens intermediários, o que tem aumentado e é importante para o crescimento da indústria e dos investimentos no país.
“Qualquer acirramento das tensões para um conflito pode ter efeito para essa transmissão”, explica. “Um conflito poderia mexer com o câmbio e com comportamento de outros países, afetando o fluxo de comércio, com impacto negativo nas importações. Mas por enquanto isso não está no radar”, frisa.