Aviva Siegel, israelense que foi refém do grupo extremista Hamas, afirmou que viveu “51 dias no inferno” nas mãos dos sequestradores. Ela e o marido, Keith, junto de outros 16 moradores, foram levados no dia 7 de outubro
do kibutz Kfar Aza, cidade que fica a cerca de 3 kms da fronteira com a Faixa de Gaza.
“Foram 51 dias no inferno. Ninguém esquece uma coisa assim. Fui torturada, passei fome, tive sede. Não tinha oxigênio”, disse Aviva ao programa Fantástico, da TV Globo. “Quando pegaram o Keith, quebraram as costelas dele com um empurrão. Deram tiros em volta da gente, e uma das balas acertou a mão dele”, acrescentou.
“Não nos davam comida suficiente, então perdi 10 quilos. Davam um pouco de pão, às vezes tão seco que você mal conseguia mastigar. Às vezes, era só um pouco de arroz, mas nunca era o suficiente. E, às vezes, não davam nem água o suficiente”, completou.
Segundo Aviva, os sequestradores do Hamas “costumavam comer na frente” dos reféns. “Mastigavam, vinham de outro recinto mastigando, enquanto nos deixavam 24 horas sem comer”, disse ela.
Abuso sexual
Aviva relatou ainda que testemunhou o sofrimento de uma mulher também refém que foi vítima de abuso sexual pelos integrantes do Hamas.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), há indícios de
violência sexual, como estupro e estupro coletivo, que teriam acontecido no sul de Israel durante o ataque de 7 de outubro
.
Aviva relatou ter presenciado abusos sexuais e físicos com outras reféns. “Uma das moças foi ao banheiro e, quando voltou, eu pude ver no rosto dela que alguma coisa tinha acontecido”, disse.
“Levantei-me e dei um abraço nela. E o terrorista veio e começou a gritar porque a gente sabia que eles não deixavam a gente se abraçar. Depois de umas duas horas, com todo mundo quieto, porque a gente sabia que uma coisa ruim tinha acontecido com ela, ela olhou pra mim e disse: ele tocou em mim”, relatou.
“Não sei se ela me contou tudo o que aconteceu, mas o que ela me contou, como ele tocou nela, isso foi o suficiente pra eu sentir muita pena. A gente ficou chorando por uns 2 dias, foi um momento muito difícil”, completou.
Segundo a ex-refém, ela e o marido foram transferidos mais de 10 vezes. “Em uma das vezes, nos levaram pra debaixo da terra e ficamos só nós 2 ali, porque eles sentiram que não ia ter oxigênio suficiente pra eles. A gente achou que fosse morrer”.
“Eles nos vestiam pra ir de um lugar pro outro, pra gente ter um visual árabe. Eu ficava toda coberta, com só um pedaço do rosto de fora, pra andar nas ruas de Gaza. Eles escondiam as armas em uma bolsa, iam bem vestidos e diziam que, se a gente abrisse a boca, nos matariam”, disse.
Aviva foi liberta pouco mais de um mês depois do início do conflito, durante acordo de cessar-fogo. O marido, porém, segue refém do Hamas. “Keith tem 64 anos e tem problemas de saúde, tem pressão alta e não está tomando o remédio certo. Tenho certeza disso, porque eu não tomei. E ele foi tratado como lixo, como um nada”, disse a israelense.
Em fevereiro, oficiais de Israel informaram que ao menos 31 dos 136 reféns restantes na Faixa de Gaza morreram desde outubro.