Operadores do mercado financeiro consideram cada vez mais provável uma intervenção do Banco Central no câmbio, com a venda de reservas internacionais ou swaps cambiais, para conter um pouco dos excessos da alta recente da cotação do dólar.
Mas alguns deles argumentam que, sem uma correção mais geral na mensagem de política monetária, a atuação no mercado de câmbio poderia ser contraproducente, desencadeando dúvidas sobre a disposição de agir para controlar a inflação.
Desde a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de março, a cotação do dólar saiu de R$ 4,95 para o pico perto de R$ 5,29 durante o pregão de hoje. A alta foi provocada pela piora do ambiente internacional, com o adiamento dos cortes de juros pelo BC americano e acirramento dos conflitos no Oriente Médio, e na política fiscal doméstica, com a mudança da meta de resultado primário de 2025.
Na teoria, o Banco Central não deveria intervir, se há uma mudança de fundamento econômico que faz a taxa de câmbio de equilíbrio mudar de patamar. Mas, na prática, há justificativas para agir. Nos últimos dias, em vários momentos o real se descolou de moedas de outros emergentes. Na última madrugada, países asiáticos fizeram intervenções cambiais.
De certa forma, o Brasil vive hoje uma situação semelhante à do início de 2021, quando o ambiente internacional azedou com o pacote de expansão fiscal do governo Biden e, aqui dentro, com as incertezas fiscais criadas pelo governo Bolsonaro com a PEC Emergencial. Naquela época, a autoridade monetária fez vendas maciças de dólares para acalmar os mercados.
Mas um operador faz uma distinção importante do momento atual em relação ao anterior: em 2021, o Banco Central estava começando a embarcar em um ciclo de alta dos juros, e não havia muita dúvida de que faria o que fosse preciso para colocar a inflação na meta, depois de se desamarrar de um “forward guidance” que o obrigava a manter os juros baixos.
Hoje, a alta do dólar ocorre em paralelo com a deterioração nas expectativas inflacionárias. Primeiro, a inflação implícita para os próximos anos subiu acima de 4%. Mais recentemente, a previsão dos economistas para a inflação em 2025 no boletim Focus passou a aumentar. Nesta semana, foi de 3,53% para 3,56%.
O deslocamento das expectativas sugere que há dúvidas no mercado sobre o combate à inflação, diz esse operador. O Banco Central está comprometido com uma baixa de 0,5 ponto na Selic em maio, que alguns no mercado acham que não pode ser mais garantida de antemão. Da última vez que se pronunciou sobre assuntos monetários, o BC disse que o cenário básico do Copom não se alterou substancialmente. Também há dúvidas se, depois que Roberto Campos Neto deixar a presidência do BC, a autoridade monetária seguirá perseguindo a meta de inflação.
A ausência de uma sinalização mais firme do lado monetário faz com que o mercado coloque a carga na taxa de câmbio. Sem uma correção na mensagem mais geral do Copom, a intervenção cambial pode ser vista como um substituto para uma ação que porventura seja necessária nos juros.